FC Midtjylland 2015 - Matemática Brutal

FC Midtjylland
 ...Matemática brutal foi o caminho escolhido para esmagar o Brondby e o FC Copenhaga


Mas que raio se passa na Dinamarca? Que revolução é esta de Rasmus Ankersen? Um puto um nadinha mais velho que eu, com 32 anos, chega a Herning, cidade que alberga o FCM e que tem pouco mais de 40 mil habitantes, é nomeado presidente do clube e em ano de estreia faz do FCM campeão dinamarquês pela primeira vez na sua história. E fez isto sem precisar de nenhum Valentim Loureiro! O método? Reunir um Evereste de dados estatísticos e tomar as principais decisões com base na análise dos mesmos. A emoção fica para os humanos.

Mas como é que um puto de 32 anos chega a presidente dum clube? Matthew Benham é um milionário britânico que fez fortuna à pala das apostas. Lá os apostadores não são criminalizados como em Portugal e Benham era um gajo que sabia da poda. Aproveitava-se dos erros dos bookies para lucrar com o seu método que envolvia análise de dados dos jogos em que apostava e profundo conhecimento sobre os desportos. Benham ficou amigo de Ankersen depois de ler o seu livro "The Gold Mine Effect". Depois de adquirir o Brentford em 2012, Ankersen aconselhou Benham a investir no FC Midtjylland depois de lhe ter explicado que as pessoas deste clube estariam disponíveis para mudar e para abraçar um projecto diferente de tudo o resto. Benham não hesitou, comprou uma parte do FCM e nomeou Ankersen presidente do clube. Depois de ver que Ankersen levou sucesso ao FCM, Benham nomeou-o responsável pela contratação de jogadores e treinadores para o Brentford.

E a experiência começou assim...

Ankersen contratou uma data de analistas para se debruçarem sobre todos os dados em torno do clube. Estatísticas de jogadores do clube, estatísticas de jogadores alvo no mercado, estatísticas dos adversários - tudo e mais alguma coisa! Montou um laboratório para bolas paradas com reuniões mensais do plantel (incluindo treinadores e o próprio Ankersen) e grupos de trabalho para trabalharem em conjunto esta parte do jogo. Chegou a contratar um preparador especialista apenas na técnica do remate para aumentar a eficácia dos jogadores. Resultado? Média de quase 1 golo por jogo através de bolas paradas. Houve jogos em que chegaram a marcar 4 golos todos de bola parada... Isto é brutal mas a direcção do clube não embandeirou em arco e nunca excluiu que tudo aquilo poderia ser... Sorte.

"A nossa classificação na liga mente. Nós estamos em 1º lugar mas nós só nos podemos considerar bons quando o nosso modelo disser que somos bons"




E que modelo é este? Certamente que há uma filosofia para o jogo mas falando de gestão, Ankersen criou um modelo para o FCM inspirado no método com que Benham batia as casas de apostas. Benham sempre fez uma coisa que nós aqui no bujas também gostamos de fazer: imaginar equipas de outras ligas a jogar, por exemplo, na Premier League. E este ranking de clubes ajuda-os a contratar jogadores para o FCM, jogadores que na opinião deles poderiam jogar num nível superior ao da liga dinamarquesa sem problemas. Um exemplo? Tim Sparv, médio defensivo que alinhava no Greuther Furth da 2ª divisão alemã.

Sparv não tinha dados estatísticos que fundamentassem a sua contratação. Então... Porquê contratá-lo? Sparv alinhava no Greuther Furth, um clube que segundo o modelo de Ankersen podia disputar a Premier League Inglesa. O Greuther Furth tinha jogado na Taça contra clubes da 1ª divisão alemã e, estabelecendo a ponte entre clubes de topo alemães e as suas exibições contra equipas inglesas nas competições europeias, era possível chegar à conclusão que o Greuther Furth faria boa figura em Inglaterra. Se Sparv não fazia cortes espectaculares e não tinha estatística relevante em tackles, disputas de bola, então isto só podia significar que Sparv estava a chegar antes do adversário aos lances. A ausência de estatística, num médio defensivo, pode revelar excelente posicionamento e que as coisas estão a ser bem feitas. 

Se o FC Midtjylland tem menor orçamento que o Copenhaga ou que o Brondby, então acertar nas contratações torna-se fundamental para os superar. Os olheiros do FCM não vão ver jogos ao vivo dos jogadores que o clube quer contratar. A direcção em vez de compilar um relatório de 3 ou 4 jogos ao vivo de um atleta prefere observar dezenas de jogos em vídeo, numa posição em que é muito menos provável errar do que estando num estádio, com todo o ambiente a condicionar a avaliação do atleta. A função dos olheiros é apenas descobrir posteriormente, depois de se definir o alvo, se os jogadores estão aptos mentalmente para jogar no FCM e se o seu comportamento fora dos relvados é o que um atleta de topo deve ter.

Esta política de contratações e o laboratório de bolas paradas é apenas uma pontinha que Ankersen deixa revelar sobre o seu modelo para o Mitdjylland. Em 2015/16 o FCM, campeão em título, segue em 1º lugar com 7 pontos de avanço para o Brondby e 8 pontos para o Copenhaga. O maior feito da época, até agora, foi eliminar o Southampton (1-0, 1-1) no apuramento para a fase de grupos da Liga Europa.


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About Ai Vale Bujas

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14 comentários:

  1. Grande artigo Bujas, parabéns.
    Só uma coisa: para além do livro, quem é/era Ankersen? Se fui eu a perceber mal, desculpa, mas gostava de perceber quem ele é, porque o outro é o milionário das apostas que teve olho para apostar neste homem.

    Estou muito interessado neste caso, é fantástico. Faz-me lembrar o que se passou nos USA há muitos anos atrás. Espectacular a política de não ter desarmes e etc. poder ser sinal que ele nem precisa de fazê-los, já estava no sítio certo.

    Abraço.

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    1. Boas POC! Obrigado.
      O Ankersen pelo que sei foi uma das maiores promessas do futebol dinamarquês da década passada só que no 1º jogo oficial (ou num dos primeiros jogos), quando tinha 18 anos, lesionou-se gravemente e teve que pendurar as botas. Depois foi estudar futebol e esteve sempre envolvido na vida do clube (daí ter reunido consenso na estrutura do Midtjylland quando foi proposto pelo Benham para presidente). A história encontra paralelismo com outra engraçada que podemos ver no filme Moneyball. Só que a estatística que é usada pelo FCM não é estatística "oca", eles usam aquilo com pés e cabeça ao serviço da tal ideia de jogo que querem no clube. E as bolas paradas para eles são tão importantes quando a transição defensiva ou organização defensiva.

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  2. Grande artigo! Congrats! Tenho que me debruçar sobre este método.

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    1. obrigado, Borrego! Cria aí um clube de futebol para aplicarmos um método qualquer

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  3. vamos ver como se sai o mydtiland na europa. mas pelo que vi contra o southampton estiveram muito sólidos na defesa sem nunca dar muitas hipoteses ao velocista mané,acho que se esse esquema começar a dar frutos, muitos outros o irão seguir, afinal de contas se olharmos com frieza para como os clubes grandes trabalham não estão muito distantes disso, basta ver a forma como o Benfica labs funciona, e a forma como elabora relatórios sobre tudo o que um jogador faz de forma a corrigi-lo.

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    1. o Benfica Lab é uma ferramenta poderosissima. O Benfica investiu imenso nestas tecnologias de auxilio ao futebol da equipa principal e bem... O problema é que acho que a nossa estrutura não consegue rentabilizar ao máximo os recursos que tem. O Midtjylland muito dificilmente passa o grupo da Liga Europa (Napoli, Club Brugges e Legia Varsóvia). Dificil... Mas não impossível.

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